sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Cruzamento

|Flávia Rocha


São Paulo, 26 de janeiro, 1973


A fome sempre renovada na casa:
biscoito para molhar no café.

A porta dos fundos deixada aberta
pela mão neutra da empregada.

Meu avô na calçada estreita
de uma cidade procurando uma vila.

Meu avô com seu largo guarda-chuva
no dia mais seco do ano.

Meu avô sem um nome
que lhe desse um filho, uma casa.

Depois de dois anos de buscas,
eles finalmente trancaram a porta.

Meu avô atravessa o cruzamento
seguro, na via única do tempo.