terça-feira, 16 de abril de 2013

Flúor

|Andreia C. Faria


Agradeço-te, mãe, o flúor
que até aos seis anos tomei em comprimidos
Serve de herança a melhor dentição
Deste-me as falhas, também
o carácter, mero utensílio
da sorte com que encarar os dias
o silvar nas frinchas
da fala
as dores
e o ranger da criação

Se pela boca começasse
a alma a abrir-se e por tal paisagem
divisasse eu primeiro
a oclusão do céu deixando
intacta na terra
a geração dos vivos
poderia (e tu pela raiz)
salvar-me antes mesmo
de aprender a ler