domingo, 21 de abril de 2013

Escrever para suprir

|Andreia C. Faria




A leitura e a escrita como tarefas em função das quais organizar os dias surgem muito cedo, mais fruto das circunstâncias do que de uma opção consciente. Ler e escrever (melhor do que a maioria dos miúdos o faria então) começou por ser, aos 8, 9 anos, a minha forma de exercer poder. De impressionar. De me situar perante mim própria e perante os outros.

Se tivesse sido uma princesinha, uma rainha da beleza pré-púbere, se tivesse oportunidade de andar ao ar livre em vez de passar horas fechada num pequeno apartamento, certamente não teria começado a escrever - teria coisas melhores para fazer. Escrevo porque não sou uma estrela rock, não sou campeã de ténis, não sou fotógrafa ou actriz ou realizadora de videoclips. Escrevo porque a escrita é o que me sobra para encenar o corpo.

A escrita nasce da solidão. Uma criança é como um gato - altiva da sua solidão, sem memória de um entendimento que não seja consigo própria. Depois cresce e apaixona-se e escreve para retornar a esse estado edénico da primeira solidão.




Andreia C. Faria tem obra dispersa por blogues e é autora do livro De haver relento, publicado pela Cosmorama, em 2008.