sábado, 5 de outubro de 2013

Quatro poemas de António LaCarne

|António LaCarne


poema para cálices & pessoas ausentes

não há espaço

nem alienígenas circunspectos

viajantes são nossos segredos nas estantes

performance madrugada de mil dentes

o amor que platina os bosques

regiões de fuga rodopiam meu percurso

& omisso adorar

raízes flagelos distâncias no espaldar do mundo

relíquias de auroras boreais retidas no espaço

pois esta fumaça cercada por vidros cálices vórtices

comemora descalça os ventos daí

os 365 beijos que eu jamais quis

as dolorosas formas do poder floral & dos carmas

exatidão em páginas & eles desenham fatalidades

tão começo tão tarde tão trabalhosa é a noite.




*

piscina

era noite & nosso amor subjuntivo no espaço,

em câmera lenta nos posicionamos diante do espelho,

imaginamos terra firme, o brooklyn, o oceano pacífico,

por duas horas o coração se dobrou ao meio,

queríamos ar, passarinho longe da gaiola,

a sensação cósmica do ser descrita em livro,

pequena tragédia tão subcutânea, tão indiferente,

e-mail estilhaçado aos quatro ventos,

aquela esquina passageira por onde você vai & eu desisto,

eu também me perdi,

com a faca & o queijo nas mãos o carnaval foi anjinho,

cupido, criança superestimada,

mergulhei na piscina imitando o inimigo,

eu como mulher & você como esfera,

rápida no gatilho,

sozinha & cabisbaixa.

*


saturday

em html eu destruí o mundo de cabo a rabo

(sempre anônimo)

mas com a foto de virginia woolf

na mão direita.



é que traduzi um fantasma em mim:

seus olhos

sua crosta terrestre

o monstro na jaula que nunca vê

o dia.



outra vez quero passar despercebido

mergulhar no verão

balançar o corpo de vez em quando

e nunca mais

pronunciar aquele chão de dores.



aí talvez

num corpo de elefante único no planeta

eu esqueça você indo embora

numa despedida que não tem cara

de despedida.

*


verão dos aposentos

menor,

visto sob os calcanhares,

seria talvez descrença: pai, padre, noite e o farol,

voz calada por ti,

por ele que viaja alegre,

terras ensolaradas sem perdão,



menor,

mesa de vidro onde pouso rosto, braço, queixo,

tendência ao mergulho nas piscinas,

eu não quero você aqui,

releitura de três mentiras sobre a traição,

neste instante recorro ao tempo,



menor,

primeira carta ao agricultor,

como resposta, não promete recompensas,

exímio aniquilador do beijo,

ele impõe uma canção,

da cantiga, sobrevivemos,



menor,

busco o tom do coração em sobressalto,

aos domingos, tom árduo e severo,

e lentamente, em círculos de giz,

maximizo a produção de suor.




Antônio LaCarne nasceu em 1983 e é escritor. Publicou o livro de prosa poética "Elefante-Rei: Poemas B" (2009) e em 2011 participou da coletânea de contistas contemporâneos "A Polêmica Vida do Amor" pela Editora Oito e Meio. Escreve poemas, contos, fragmentos e diários. Assina o blogue O Impenetrável, e no momento finaliza um livro de contos chamado "Salão Chinês".

http://oimpenetravel.blogspot.com.br