sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Canto redondo

|Helena Carvalho

Se o dardo se arrojar à água e me tingir os dedos
serei grito convexo e canto.

A pele pressente tarde os murmúrios da sibila
esquecida do primeiro abalo da manhã no corpo,
ferida umbilical nos pontos cardeais.
Dá-se à luz prótese pelo avesso
vestida dos lampejos vespertinos
e de retratos da memória suspensa no cicio das aves.

Queria fazer-me toda voz
um canto redondo que convocasse tudo à sua presença,
a nota impossível em tom cristal
que ressoasse a vibração última dos dardos.

Um grito convexo inverte o tom e acerta o alvo.

Canto que sarasse este abismo que tenho em cada mão
por onde todas as imagens se escapam e
se reconciliam talvez com o seu ideal.