quinta-feira, 24 de outubro de 2013

A terceira voz

|Helena Carvalho

É no centro espectral da disseminação nocturna –
nas margens letais de puro branco onde ensaiamos
o fechar dos círculos –
que a diferença se faz timbre e a voz começa.

Chega-nos devagar
como um embalo que se oferece à garganta
e alastra-se com rapidez aquosa do palato
ao goto afundando raízes velhas
em incisões violentas.

Fundimo-nos com esta terceira voz
prima-vox-ex-nihilo         prodígio
de uma prótese compulsiva
e acertamos o tom por meio da distorção
e da afonia.

E na esperança de rebater o alvo
deslizamos continuamente entre o dizer e o eco
inscientes da multiplicação
porque quando a voz começa somos
sempre dois.