sábado, 30 de março de 2013

Subimos.Setembro.A sombra da casa comprida.

|Petr Borkovec


     Subimos. Setembro. A sombra da casa comprida.
     Por todo o lado pó, o zumbido do rádio.
     O sol na armação cromada da cama.
     Alcançaste os teus cigarros.
A escadaria sonha ainda debaixo de nós,
as cortinas mexem-se devagar, como se escorressem.
A pia vazia era uma explosão de prata
e os segundos sempre fluidos e voando
para além do calor, do seu toque.  O tempo inactivo,
tudo afastado do seu propósito –
o sol na paralisada armação da cama,
o cabide, a imagem na parede.
Eu vi o fumo fresco do teu cigarro,
os livros empilhados atrás de nós,
e a coberta com peixes e aves e flores
todos caindo e deslizando para o chão
onde arrefeciam numa geometria azul.
Pó no guarda-roupa, pó na ária.
Pela janela, uma colorida vista que morre.
Lá fora, nenhum plano se aninhava nas sombras,
e a toalha, ociosamente deitada na cadeira,
tinha a mesma história que nós. 


(Tradução: Luís Filipe Cristóvão)