quarta-feira, 27 de março de 2013

Comboio Suburbano, 0:05

|Petr Borkovec


Fórmica azul-celeste, cilindros florescentes.
Os céus abrem, dilúvios de luz: pai
com filha adulta, peles ao pescoço, eu, com o cheiro
das roupas suadas,  alguns lugares atrás de uns soldados.

O apito. As lâmpadas queimam. Depois o escuro. As janelas
seguram as nossas caras desoladas e pálidas. Os soldados
jogam às cartas no colo. A mulher, fechada,
escarros de jaspe branco nas orelhas balançando.

Pai e filha não conseguem cair no sono
Enquanto relembram aquele jovem coração que sangra e arde
Na mão do bêbado da pequena loja do cais de embarque.

Ela é esbelta e alta. O programa do Cimbelino
escorrega limpo do seu colo em direcção ao bêbado.
De branco, ela inclina-se, como o faria para um beijo.


(Tradução: Luís Filipe Cristóvão)