terça-feira, 14 de janeiro de 2014

O ferro de solda ou o metal de conjuminâncias

|Ricardo Flaitt

Quando meninoera, tempo que sol era apenesfera,
Pedi ao pai um ferro de solda pra concertar dicionários.
Em minha fábrica demendas
Catracava vocábulos coestanho, encavalava letras,
Corrupiava conceitos, emendava chuvas nolfato dos passarinhos,
Sons de uma velha cuíca em pedaços de inverno,
Cerzia serenos em cascos de vaga-lumes
E assim o mundo todo seliquefazia no mais profundemim.
A mãe até hoje não entendeu
Quando fundi um caleidoscópio nosolhos
Prenxegar a vida doavesso.
Mas era dessa forma que a vida ganhava sentido
E era assim que minha alma contornava a serra de Cajuru,
Sebanhava no Canoas, cingia o Rio Pardo
E terminava no bairro da Aparecida.
Eu só-tinha-isso: um metal de conjuminâncias
E um punhado de vocábulos
A fundir dicionários cambetas
Que continham todo o mundo dos meus pensamentos,
De minhas sensassâncias, meu sentir:
Mistura de sentimentos com infinitos e distâncias.