segunda-feira, 15 de julho de 2013

A meditação da batata

|Sonata Paliulyte

Agachada junto ao caixote,
descasco batatas.
O ritual é simples,
cortar e arrancar os rebentos,
atirar fora as cascas.
Pum… pum… fazem elas
ao cair no monte.
Vou pegar numa grande tigela
e fazer panquecas de batata –
um dos teus pratos preferidos.
Uma panqueca para a mãe,
outra – para o pai,
a terceira – para a tia,
para as avós
transformadas em memórias,
para o mais pequeno,
para mim própria,
por todos aqueles dias e noites,
por todas aquelas lágrimas derramadas
que hoje serão engolidas com as panquecas –
bem salgadas ficarão.
Se alguém salga em demasia a comida,
dizem as pessoas que isso significa estar apaixonada,
mas hoje não terei compaixão.
Só a frigideira,
só o estalido certeiro
do óleo;
a face desprotegida,
as mãos despidas
como alvo,
as batatas mal raladas,
ainda cruas,
ganhando tom,
vão ficar quase queimadas
como  tu gostas.
Imersas
no óleo,
submergidas
na lembrança.



Tradução de Luís Filipe Cristóvão