|Flávia Rocha
O casaco displicente e preto
à porta, caveira de boi
no quarto— você veste
alguma outra cor, menos óbvia,
e deixa os objetos delatores
em casa, sob a pia— no momento
em que lava o rosto e o verde
dos seus olhos absorve o brilho
sombrio de uma lâmpada,
você acorda, sem a perspectiva
exata— a mão ainda dormente
em concha sobre o travesseiro
no chão recebe brisas distantes,
sem assepsias. Estampas
sobre a mesinha de madeira
obscura— a nudez fixa
no espelho irreal, reflexo único.
Caveira de boi à porta—
ágil, decidida, você procura
por alguém que dorme.