|Luís Coelho
Os homens do Espírito pretendem ver Fausto na Ciência
O saber a atentar o caminho babélico
A perversão das Origens
Para que às Origens voltemos
As mesmas que nunca deixámos de ser,
Mas se a Ciência triunfar
Na suspensão do sofrimento
Do mal do atrito do Eu
Já Faustos não seremos
Porque Nada, na verdade, seremos
Porque a morte do atrito e a extinção das necessidades
É a diluição da consciência
De um Eu, que já não sendo, se torna Nada
Do mesmo Nada de que fala o Espírito
Mas agora um Absoluto em Terra
Que da Terra nunca chegou a partir
Senão por mera ilusão, projeção,
Devaneio ou consciência sobrepujada.
Pensar que o controlo dos genes e a tiranização das causas
Deste Admirável Mundo Novo que já se inicia num mais que vislumbre
Será sufocado pelo poder do Eu que se deseja Espírito que se deseja Amor
É esquecer que é a própria volição
É a própria consciência do Eu ultrajado
É a própria noção de um Ego maltratado
É o próprio sentido e mesmo a felicidade
Que já não serão nossos
Porque terão sido programados
Porque terão sido tornados outrem
Porque terão sido vertidos no Nada
Que o antigo desejo de não sofrer
Terá determinado nesta solução de nada ser.
O Admirável Mundo Novo promete o Nada
Sem que se pareça com o Absoluto do Infinito
Porque aqui reside apenas a morte de Ser
E o desejo a ambição serão de uns poucos
Porque todos os outros já nada serão
E o querer ser será de cada vez menos
Serão uns tantos a ser e com sofrer
Porque não entendem que a morte da dor
Tem de ter a morte de ser
E serão todos os outros sem o ser sem o sofrer
Mas já nada são porque não sentem e não desejam
Daí que sofrer é condição da vida
E o ambicionar a condição do Nada
Para que o Nada mate a própria ambição,
O sofrimento e o tudo querer,
Daí que sofrer eternamente é condição de ser
E que impingir o Nada aos outros para que algo em nós seja
É como impingir o Nada a nós mesmos
Porque só este matará a dor, a própria e a alheia.
Nada ser é já não desejar ser ou involuir
É a garantia do Espírito que não requer corpo
Quando ser algo e querer o eterno retorno
Na via correta, no dharma, na obra sublimada
Mas num Absoluto nunca consumado
É o estar da psique, de uma que se pretende tal
Que se pretende ‘Eu’ no atrito permanente
Parece-me que pretender o equilíbrio na Terra
É a via mais sensata
Anulam-se os extremos, a dualidade bipolar,
Mas sem que inexista um certo atrito
Pois que a aventura de ser é a condição do alívio
De um alívio que não pode existir no ‘Nada’
E que por isso parece ser uma má solução
Uma armadilha
Porque lá chegando lá se perde a vontade de ser
Do mesmo que queria a euforia perpétua
Porque entendeu como todos os outros
O impermanente como permanente.