| Arvis Viguls
folhas verdes sobre os meus olhos, eu apenas percebo a cadência entre luz e noite.
como mamilos, aquelas duras flores espremidas através do tecido para o florescimento,
estendem as suas raízes bem dentro de mim, onde os animais nocturnos trabalham cegamente,
disparando pegajosos sucos de vida para dentro uns dos outros.
os nervos foram desvendados, pequenos vasos sanguíneos nas palmas como numa planta.
nunca foi tão fácil como hoje para mim, agora eu sei que sou um jardim.
por vezes à noite, as minhas mãos ficam sem forças sobre os teus seios,
e, inadvertidamente, espalho os meus dedos como raízes, mergulhando-os debaixo da tua pele.
a minha boca é um rasganço na pele cor de romã,
revelando-se como um filme de gomas vermelhas.
e o meu coração é uma fruta tiritante, que por vezes, tendo caído do ramo,
fica debaixo da sua própria sombra.
apenas me lembro do cheiro da pele – a pele limpa
desencascada dos sucos.
Tradução Luís Filipe Cristóvão