quinta-feira, 28 de março de 2013

A luz do dia desvanecia-se. Chovia torrencialmente.

|Petr Borkovec


A luz do dia desvanecia-se. Chovia torrencialmente.
O inferno vai brilhando pela calçada, aqui e ali.

Como nos desenhos de Lada, com ternura e inocência,
os diabos certificam-se da disposição dos seus tesouros.

Sobre os candeeiros, já tarde, regressam a casa três pássaros.
Sobre a apática, triste e interminável posição

da cidade nocturna, das janelas de todas as livrarias,
dos bares cada vez mais inclinados e iluminados,

da fonte onde o menino de mármore
conforta uma carpa numa cesta de mármore

(o nariz do pai, os olhos que a mãe lhe deu…
as moedas tilintando alegremente no fundo da água),

por cima da chuva agora fraca, dos diabos com os seus segredos.
Nós ficámos por ali e acendemos um cigarro.

Não se passa nada, meu amor. Tu tremes como uma pluma.
Abraça-me. Vamos passear. Esta noite dormimos juntos.


(Tradução: Luís Filipe Cristóvão)