|Luís Filipe
Cristóvão
O que se
conhecia de Madalena de Castro Campos, que tem vindo a publicar no blogue les cahiers de la mariée, já dava o tom
daquilo que se encontra n’ O Fardo do
Homem Branco, o seu primeiro livro, publicado pela açoriana Companhia das
Ilhas. Uma poesia fortemente cínica, no modo como a partir de uma personagem
feminina vai desconstruindo o marialvismo ainda latente na cultura portuguesa. A
utilização, no título, da referência a Rudyard Kipling, acaba por dar um tom
pesadamente irónico ao que encontramos dentro deste pequeno volume.
Tematicamente,
Madalena de Castro Campos constitui um corpus coeso, percebendo-se o seu
sentido auto-crítico na forma como selecionou os textos que havia publicado na
rede. O elemento masculino dos seus poemas surge sempre fragilizado na sua
unidimensionalidade de procura de satisfação sexual, à qual o elemento feminino
se aproxima como elemento facilitador. Ao mesmo tempo, a revelação do cinismo
surge enquanto a sua participação no ato é sempre intelectualmente marcada por
um certo sentido de superioridade.
O
vocabulário da desonestidade, da vingança, da facilidade de praticar a
teatralidade das ações está marcadamente presente em toda a obra. Mas a
personagem ativa deste livro vai mais longe, nomeando algumas das vezes o homem
que subjuga – falando do poeta –, como também denotando um forte desprezo pela
mulher velha, de “mamas caídas” ou “carne amarga”.
Em resumo, O
Fardo do Homem Branco é uma interessante proposta para uma nova voz da poesia
portuguesa, que puxa para este género uma liberdade de linguagem mais
característica da prosa e mais habitual das publicações na rede. O grande risco
que corre a poesia de Madalena de Castro Campos é encontrar, no leitor, alguém
tão cínico como o seu texto, que acabe por, na desconstrução do mesmo, esvaziar
as potencialidades da sua proposta. Mas, lá está, a ironia era já a aposta
demarcada no próprio título.
O Fardo do
Homem Branco
Madalena de
Castro Campos
Companhia
das Ilhas
2013