|António LaCarne
poema para cálices & pessoas ausentes
não há espaço
nem alienígenas circunspectos
viajantes são nossos segredos nas estantes
performance madrugada de mil dentes
o amor que platina os bosques
regiões de fuga rodopiam meu percurso
& omisso adorar
raízes flagelos distâncias no espaldar do mundo
relíquias de auroras boreais retidas no espaço
pois esta fumaça cercada por vidros cálices vórtices
comemora descalça os ventos daí
os 365 beijos que eu jamais quis
as dolorosas formas do poder floral & dos carmas
exatidão em páginas & eles desenham fatalidades
tão começo tão tarde tão trabalhosa é a noite.
*
piscina
era noite & nosso amor subjuntivo no espaço,
em câmera lenta nos posicionamos diante do espelho,
imaginamos terra firme, o brooklyn, o oceano pacífico,
por duas horas o coração se dobrou ao meio,
queríamos ar, passarinho longe da gaiola,
a sensação cósmica do ser descrita em livro,
pequena tragédia tão subcutânea, tão indiferente,
e-mail estilhaçado aos quatro ventos,
aquela esquina passageira por onde você vai & eu desisto,
eu também me perdi,
com a faca & o queijo nas mãos o carnaval foi anjinho,
cupido, criança superestimada,
mergulhei na piscina imitando o inimigo,
eu como mulher & você como esfera,
rápida no gatilho,
sozinha & cabisbaixa.
*
saturday
em html eu destruí o mundo de cabo a rabo
(sempre anônimo)
mas com a foto de virginia woolf
na mão direita.
é que traduzi um fantasma em mim:
seus olhos
sua crosta terrestre
o monstro na jaula que nunca vê
o dia.
outra vez quero passar despercebido
mergulhar no verão
balançar o corpo de vez em quando
e nunca mais
pronunciar aquele chão de dores.
aí talvez
num corpo de elefante único no planeta
eu esqueça você indo embora
numa despedida que não tem cara
de despedida.
*
verão dos aposentos
menor,
visto sob os calcanhares,
seria talvez descrença: pai, padre, noite e o farol,
voz calada por ti,
por ele que viaja alegre,
terras ensolaradas sem perdão,
menor,
mesa de vidro onde pouso rosto, braço, queixo,
tendência ao mergulho nas piscinas,
eu não quero você aqui,
releitura de três mentiras sobre a traição,
neste instante recorro ao tempo,
menor,
primeira carta ao agricultor,
como resposta, não promete recompensas,
exímio aniquilador do beijo,
ele impõe uma canção,
da cantiga, sobrevivemos,
menor,
busco o tom do coração em sobressalto,
aos domingos, tom árduo e severo,
e lentamente, em círculos de giz,
maximizo a produção de suor.
Antônio LaCarne nasceu em 1983 e é escritor. Publicou o livro de prosa poética "Elefante-Rei: Poemas B" (2009) e em 2011 participou da coletânea de contistas contemporâneos "A Polêmica Vida do Amor" pela Editora Oito e Meio. Escreve poemas, contos, fragmentos e diários. Assina o blogue O Impenetrável, e no momento finaliza um livro de contos chamado "Salão Chinês".
http://oimpenetravel.blogspot.com.br