sábado, 12 de outubro de 2013

Límbico

| Catarina Costa

Extraíra de qualquer coisa escavável algo que só a ti podia servir. Tinha-o pronto a ser oferecido. Esculpira imaterialmente algo que só a ti podia caber. E depois tinha posto a dádiva sobre uma bandeja que segurava com tensão de equilibrista, de mulher-estátua, até doer o pulso, sem saber que passos dar, por não poder levar a bandeja para a sala de refeições, que ali seria fruto sem préstimo, desembaraçado da fome. Ou segurava a dádiva pela boca, trincava-a, fazendo-a regressar para dentro de mim, ao ponto de partida, sem uso. O que extraísse de um fundo escavável a ele deveria regressar. O que extraísse do corpo a ele deveria tornar. Ou preso ficaria para sempre nas pontas dos dedos, nos lábios, nos cabelos, para que não caísse. Com a bandeja na mão, estacava num limbo repassado pelo distúrbio.