arrastei ate a beira desse poema a carcaça
de uma capivara que ate então vivia
roendo a beira da palavra rio
talvez
escavando seu sistema digestivo
eu colha esse rio
e ele me ensine a fluir
tal-qualmente uma corrente.
digo escorrer
observando a noção de nascente
até as
primeiras pedras
e quedas e diques e esgotos.
me ensina arespirar com as guelras dos lambaris
e decolar com as asas das garças.
uma amiga índia chorou tanto uma vez que
de seus olhos saíram o Rio Passa Quatro, corredeiras e mananciais.
eu poderia por um dia ser água turva,
estilo rio negro
e ser nadado por um boto rosa.
ou ser água da praia da cajaíba aguardando os espinhos do baiacu.
tenho amigos que parecem fontes de água mineral quando conversamos.
dispensar o cérebro qualquer dia desses
só para ter uma bacia hidrográfica dentro do peito.
ser rio e ser choro.
saber da esquisitice da água
que é embriagar a sede.