sexta-feira, 9 de maio de 2014

A Sagrada Família

|Luis Coelho

Pai, ao teu eco túrgido,
à Palavra com que cegas,
Condeno as liberdades,
porque não me concedo,
Não te mato em mim
de te fender nos outros,
Faço-te Lei num gesto grotesco,
no repente do medo,
de vis demónios consentidos.

Expiras em mim os pólos contrafeitos,
Limitas a minha dança à dúvida do regresso,
fazendo-me teu espelho,
no negro perecível do teu ouro,
no reflexo temível do teu núcleo.

Queres-me sombra à custa de me trazeres no teu espectro.
Queres-me luz à custa de querer trair o teu feltro.

E eu só quero ser a Mãe do teu repúdio,
matéria no asco dos teus limites,
desejo, sexo e vanidade
levitando,
mergulhando no centro do teu túmulo.

Mãe Sophia no teu filho de ousadias.
Mãe do retorno perpétuo,
comédia dos trabalhos, a tragédia dos dias,
Eu sou o filho e trago comigo a paixão
das verdades relativas, das mentiras rendidas.