domingo, 7 de abril de 2013

Primavera

|Manuel A. Domingos

Parece que andava na segunda classe quando escrevi o primeiro texto poético, segundo a minha mãe, e que tinha como tema a Primavera mais as andorinhas e os seus ninhos que faziam com os raminhos das árvores que traziam com cuidado nos seus biquinhos, não as árvores mas os seus raminhos, muito fininhos e pequeninos e todos esses lugares-comuns que é costume escrever quando andamos na segunda classe e se escreve o primeiro texto poético, segundo a nossa mãe, começando a olhar para as coisas e para o mundo de um modo diferente, sem saber que a maneira como começamos a olhar para as coisas e para o mundo vai para sempre acompanhar-nos, mesmo que não seja Primavera nem haja andorinhas a voar com raminhos de árvores nos biquinhos-fininhos-pequeninos, apesar de tentarmos todos os dias fazer o esforço de ver uma certa Primavera em tudo, nem que seja na renovação da Cartão de Condução e na fotografia que tirámos no photomaton que está ao nosso dispor mesmo ali perto: por apenas cinco euros quatro fotografias tipo passe: mas que nos deixa com umas olheiras fundas, a cara muito branca e porra que me esqueci de fazer a barba, pareço um presidiário, logo agora que até ando com melhor aspecto, eu, que nunca tive bom aspecto, mas sempre muita aptidão para ficar com ar sério, demasiado sério para o gosto da minha mãe, que diz que escrevi o primeiro texto poético quando andava na segunda classe, sobre a Primaveras mais os biquinhos-fininhos-pequeninos das andorinhas com raminhos de árvores para fazerem os ninhos nos beirais dos telhados ou no alto de uma árvore qualquer, embora eu não tenha grande certeza sobre isso, mas pouco importa pois chegou a Primavera e eu depois esclareço essa dúvida.