quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Novas diretrizes para a construção do livro

|Letícia Féres

I.

o fato de o livro não conter palavras, mas somente alguns pequenos milhões de borboletas que necessitam da inspiração - e expiração - do leitor para voar pode não ter alguma relação com a pintura de frida kahlo, as borboletas da infância ou com as pequenas alegrias que rondam a vida. pode ser apenas uma forma de dizer: “relaxe! a vida é bela. vamos dançar uma polca?”, mas também é provável - é somente provável, não estou aqui para te dar certezas! - que tenha alguma relação com as proposições acima.

II.

o livro é feito a partir de um código de direito reencadernado de modo que nunca seja possível saber se um dia pertenceu a um advogado, a um juiz ou a caryl chesmann - o que, neste caso, faria com que o valor do livro aumentasse significativamente. e não é isso exatamente o que queremos, não é verdade?

III.

o modo como o miolo do livro foi cortado faz com que ele se assemelhe a um daqueles livros com fundo falso, usados em filmes de suspense e nos poemas de joan brossa. mas você não precisa ser personagem desses filmes para lê-lo. tampouco é preciso fazer mágicas como o catalão. apenas é necessário que você tenha bons pulmões. o motivo já lhe será revelado. reze, confie e espere.

IV.


se o fôlego tem fugido nas últimas semanas, é recomendável que você inicie um programa de condicionamento físico. será lastimável que sua leitura seja prejudicada por uma pequena falha de respiração. pessoas com enfisema pulmonar não estão aptas a ler o livro. fumantes farão uma leitura mais lenta. observe: não é necessário que você possua mãos. a existência de nariz e pulmões saudáveis, e de um amigo que posicione o livro sobre um lugar confortável, já é o bastante.