E então nós éramos nós duas
e nós éramos assim:
Saia & Short
e moças soltas sem pai
o dela: sumido para ninguém nunca mais ver quando foi
(DE VERDADE) comprar cigarros numa esquina que o desapareceu.
o meu: vivo vivinho – “o mesquinho” – fazendo contas com a boca
sempre aberta se alimentando de álcool e mel.
e éramos,
então,
ninfas
queimando a argila de uma no úmido da outra.
e correndo do escuro-escuro que estava no quase
de engolir a gente, de matar a gente toda.
Short corria com rodas rápidas − fugia com cor preta
pintada no céu – ela ia pintando assim que ia passando.
Saia fugia arrastava os móveis com seus órgãos moles
suas mãos imensas e o coração tentáculo comendo nada.
éramos
então
juntas na fuga do escuro-escuro que nos
espreitava – estrategeava nosso fracasso
mas
estávamos correndo e assim também acontecia
tropeções em calcinhas e dragões que ficavam no corredor.
Short matava 3.500.50, 55 dragões por dia.
Saia jogava as calcinhas fora – saía abria o corredor
para a janela – para o aberto-reto, o fundo abstrato-branco que ela
conseguia (só ali!) respirar.
mas Short se cansou e
“contumaz,”
entrou num cômodo que não tinha janela
e não tinha branco e
não tinha abstrato e
então Short
tirou martelos e foices do seu bolso gigante e
destruiu a parede do quarto com krátos e
bíe.
a parede caiu
Short saiu
fez um corredor no meio dos tijolos todos no
chão
cor laranja
cor não entendia qual era a cor
Saia então – do branco distante (só ali vivia!) olhou
estarrecida todos os pedaços que foram uma vez parede
e
chorou.
Short cortou tudo que precisava cortar nem chorou nem
entendeu partiu correndo levando apenas um presente de Saia (em baixo dos braços) –
o xerox colorido da Vênus de Botticelli.
E então éramos
nós duas
correndo
cada uma para um lado
no fim.