sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Folha de papel encontrada na Enfermaria B

| Filipe Cachide

(…)
Dirijo-me, portanto, a sonhadores,
A quem o mundo hoje pertence por direito –
Que andem nas nuvens, poetas ou nefelibatas,
Para quem o mundo não é feito de estradas
Que não as linhas traçadas por pombos
Ou pelas livres andorinhas.

Escancarem portas à magia da palavra
Real, nobilíssima, ufana de amor –
E qual será mais verdadeira do que a poética,
Dos vossos corações em sombra já espremida?
Coroai-vos de lirismos e passeai-vos pela
Métrica do prazer de sentir.

Façam de vossos corações as vossas almas,
Que a solução da Existência existiu sempre
Inscrita em vós – e num momento
A epifania vos abale na poesia em que ressurge:
Deixem os comícios, e deixem as políticas
Que vos distraem de andar nas nuvens!

Retesem vossa argúcia, lustrem vossa ironia.
Um povo como vós é necessário que hoje
Subsista nas entrelinhas da realidade
Prosaica. Lancem poemas e cravem-nos
Em estacas nas muralhas da cidade.
E que todos leiam os versos...!




Filipe Cachide nasceu em Aveiro em 1991. Interessou-se desde cedo pela leitura e, por extensão, acabou por ingressar na escrita, que cultiva nos seus tempos livres, tendo mantido um blogue durante dois anos. Concluiu os estudos preparatórios em 2009 e encontra-se de momento a terminar o curso de Medicina na Universidade de Coimbra.