Quando a
minha irmã ficou desempregada, ainda se arranjava como se fosse para o emprego
durante muito tempo. No emprego que tinha antes era necessário ir sempre muito
arranjada, fato de saia ou de calça, saltos altos, pintura sóbria e cabelo
arranjado. Depois começou a cansar-se de se arranjar assim só para ficar em
casa. Abandonou os saltos altos, deixou de se pintar e de arranjar o cabelo, e
por fim deixou de vestir fato de saia e casaco. Aliás, chegou a uma altura em
que só vestia fato de treino, porque só se sentia confortável assim.
Depois de
enviar muitos currículos e de responder a muitas propostas de emprego, a minha
irmã é chamada para uma entrevista. Vai ao armário e todos os seus fatos lhe
estavam largos, pois tinha emagrecido desde que ficara desempregada. Escolheu
um, mas teve de o mandar apertar, para que lhe servisse.
No dia da
entrevista voltou a vestir-se como antes, arranjou o cabelo, pintou-se
solenemente e calçou uns sapatos de salto alto. Quando está a chegar à paragem
de autocarro, o que precisava de apanhar estava pronto a sair. A minha irmã
teve de correr um pouco para o tentar apanhar. Foi nesse momento que caiu e
partiu um pé. Já não foi à entrevista.
Estou a
contar isto tudo para vos explicar o que aconteceu já depois dela ter
regressado a casa com o pé engessado. O marido e os filhos foram-na encontrar
sentada no chão, junto do armário onde guardava os sapatos, a cortar todos os
saltos. Depois os sapatos tiveram de ser jogados para o lixo, pois ficaram um
pouco estranhos, como barcos naufragados.