Nada começa antes do
canto
que nasce outro sob a pele e dentro dos caules
húmidos e intocados,
nem o choro redondo dos
pássaros
nem esta voz estrangeira
que me lacera
a garganta em gomos e diz
antes de mim a volúpia
e a saudade.
Canto de primeira pedra
lançada ao lume primeiro
vate
dos pulsos cerzidos na
substância feérica
dos ventres
prematuramente acesos e
nas doze rotações dos
astros.
Tremor felino do corpo e
dos frutos
maturados em cada estação
de fogo
na sua participação cósmica
quase lunar.
Canto absoluto
nascido não da voz mas
dos tímpanos
matinalmente ligados ao
ressoar anónimo dos búzios
e à contínua vibração dos
graves.