Procuro-te
essa noite avistada quando as horas
se comprimem
numa espiral compulsiva
e as imagens
vivas são já as sombras do meio-dia.
Ouve-se nela
o canto impossível de Orfeu
quase
prodígio quase
eco cavo
a modulação
da afonia como voz ferida
tornada
prece.
Será aí a
fonte atópica das formas
do
pensamento porvir de uma paciência infinita,
o murmúrio
esférico de um neutro lá onde
toda a
presença se refaz em rasto como sinal
e
desaparição.
Lá onde a
língua é um jogo de loucura que nos cresce por dentro
um pomar de
espuma na boca
e boca é já
fruto maduro
e fruto é já
cereja
e cereja é
fogo preso
e fogo é
rito iniciático e sangue
é catarse e
conversão.
Nasce aí o
olhar felino
e as
palavras todas, essas musas de prostíbulo.
Um dia
hei-de acertar numa e oferecer-ta assim
ferida de
morte.