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sexta-feira, 7 de junho de 2013

Não sabendo muito bem

|Manuel Jorge Marmelo

Não sabendo muito bem o que fazer para me transformar num homem célebre, ocorreu-me passar a circular nos transportes públicos carregando e fingindo ler um livro grossíssimo, de mil e duzentas páginas em papel pólen soft e encadernação cartonada, ostentando na capa uma fotografia de uma paisagem urbana dos anos 1930 e o título: Cidade Conquistada. É um livro que não existe em mais parte nenhuma. Inventei-o eu — completamente.

Parece-me, por exemplo, que falta ainda uma guerra a Cidade Conquistada; que o livro de Oscar Schidinski ganhará densidade com a descrição de uma batalha, ou, melhor ainda, com a imagem melancólica de um soldado que, perdido do seu batalhão, entra numa cidade recém-bombardeada e não sabe se será acolhido como parte do exército triunfante ou como um elemento tresmalhado da tropa sitiante, caminhando trôpego entre ruínas ainda habitadas pelos corajosos resistentes. Marcel vem muito cansado, não dorme há seis dias, não come desde não sabe quando e tem os nervos desfeitos pelo ruídos dos voos rasantes, pelo estrondo das explosões, pelo matraquear das armas, pelos zumbidos das balas atravessando o ar, o grito dos homens feridos, o medo e a angústia de não saber quando tudo aquilo terá fim.

De Uma Mentira Mil Vezes Repetida