A leitura e
a escrita como tarefas em função das quais organizar os dias surgem muito cedo,
mais fruto das circunstâncias do que de uma opção consciente. Ler e escrever
(melhor do que a maioria dos miúdos o faria então) começou por ser, aos 8, 9
anos, a minha forma de exercer poder. De impressionar. De me situar perante mim
própria e perante os outros.
Se tivesse
sido uma princesinha, uma rainha da beleza pré-púbere, se tivesse oportunidade
de andar ao ar livre em vez de passar horas fechada num pequeno apartamento,
certamente não teria começado a escrever - teria coisas melhores para fazer.
Escrevo porque não sou uma estrela rock, não sou campeã de ténis, não sou
fotógrafa ou actriz ou realizadora de videoclips. Escrevo porque a escrita é o
que me sobra para encenar o corpo.
A escrita
nasce da solidão. Uma criança é como um gato - altiva da sua solidão, sem
memória de um entendimento que não seja consigo própria. Depois cresce e
apaixona-se e escreve para retornar a esse estado edénico da primeira solidão.