|André Simões
À memória do Rui
Ausência
Num deserto sem água
Numa noite sem lua
Num país sem nome
Ou numa terra nua
Por maior que seja o desespero
Nenhuma ausência é mais funda do que a tua.
Sophia de Mello Breyner
Num deserto sem água
Numa noite sem lua
Num país sem nome
Ou numa terra nua
Por maior que seja o desespero
Nenhuma ausência é mais funda do que a tua.
Sophia de Mello Breyner
I. Mater Dolorosa
Vergada sobre a montra. Os olhos
inchados de lágrimas perpétuas. Não sei o que olhava. Nada. Desesperada. Ali
estava. Imóvel. Em que pensaria. Parei uns segundos. Para lhe perguntar por
ele. Como estava. Soubera-o naquele mesmo dia. Não tive coragem de a acordar.
Vergada sobre a montra. Não olhava para nada. Estátua de sal. Das lágrimas.
Mater dolorosa.
II. A flor
Estavas sentado, em silêncio, como
tantas vezes. Apreciávamos a companhia um do outro, sem necessidade de
palavras. Bastava-nos a presença do outro. Tinhas pegado numa folha de papel,
abandonada sobre a caótica mesa do meu quarto. Dedos ágeis. Minutos depois era
uma flor, pequena. Estendeste-ma. Coloquei-a num copo de shot. Ali amareleceu com o tempo e o fumo dos nossos cigarros.