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sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Carnaval de Torres Vedras - Programa



28 FEVEREIRO - SEXTA-FEIRA

09h30 – Corso Escolar | centro da cidade*

22h00 – Chegada Reis Carnaval | Praça Sr. Vinho - Mercado Municipal de Torres Vedras

22h30 – Dj’s Carnaval Party I
Palco 1 | Praça Machado Santos
Palco 2 | Jardim de Santiago
Palco 3 | Mercado Municipal

04h00 – Encerramento dos Palcos



01 MARÇO - SÁBADO

21h00 – Corso Nocturno - Concurso Grupos Mascarados, Tó'Candar | centro da cidade*

22h30 – Dj’s Carnaval Party II
Palco 1 | Praça Machado Santos
Palco 2 | Jardim de Santiago
Palco 3 | Mercado Municipal

03h00 – Abertura de portas do recinto

05h00 – Encerramento dos Palcos



2 MARÇO - DOMINGO

14h30 – Corso Diurno – Tó'Candar | centro da cidade*

22h30 – Dj’s Carnaval Party III
Palco 1 | Praça Machado Santos
Palco 2 | Jardim de Santiago

04h00 – Encerramento dos Palcos



3 MARÇO - SEGUNDA-FEIRA

14h30 – Baile Máscaras Tradição | Expotorres - Pavilhão Multiusos

21h00 – Corso Trapalhão, Tó'Candar | centro da cidade*

22h30 – Dj’s Carnaval Party IV
Palco 1 | Praça Machado Santos
Palco 2 | Jardim de Santiago
Palco 3 | Mercado Municipal

03h00 – Abertura de portas do recinto

05h00 – Encerramento dos Palcos



4 MARÇO - TERÇA-FEIRA

14h30 – Corso Diurno – Tó'Candar | centro da cidade*

19h00 – Abertura de portas do recinto



5 MARÇO - QUARTA-FEIRA

21h00 – Enterro do Entrudo c/ Fogo-de-artifício | Praça da República ao Tribunal

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Carnaval de Torres Vedras - Apontamentos Históricos



O historiador Venerando Aspra de Matos fez, no seu blogue, um breve apontamento histórico sobre o Carnaval de Torres Vedras, que passa pelos primórdios deste festejo, seguindo pela invenção da marca "Carnaval de Torres Vedras", as suas vivências nos anos 30 e 40, a afirmação nos anos 60 e o crescimento no pós-25 de abril.

No seu trabalho também são assinaladas as especificidades deste Carnaval. Para ler o artigo completo, consulte o blogue Vedrografias.

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Carnaval de Torres Vedras - Os Reis e As Matrafonas

Os Reis 

"Eram 10 horas e 17 minutos quando o comboio entrou na Estação. Sobem ao ar foguetes. A banda musical atroa aos ares com uma marcha real (...) na assistência há palmas e gargalhadas".



Foi em 1923 que se iniciou a tradição de fazer a receção ao Rei do Carnaval, "chegando no comboio, após o que percorreu as ruas da Vila, integrado num cortejo".
A Rainha surgiu pela primeira vez no Carnaval de 1924, ano em que se atingiu uma animação de rua nunca antes vista.

A persistência do modelo dos "Reis do Carnaval" de Torres é surpreendente pela sua composição (sempre dois homens, por razões que a tradição social explica), pela pose sarcasticamente grandiloquente, pelos adereços desconcertantes ou pela sua afirmação como referência a foliões.

As Matrafonas

As "matrafonas", sendo um dos símbolos fortes do Carnaval de Torres, demonstram a capacidade de renovação assegurando a fidelidade à tradição.

Os grupos de "matrafonas", homens mascarados de mulher, surgem por volta de 1926, segundo testemunho oral.



Esses grupos "mais não eram do que indivíduos que vestiam um fato de mulher - mas que não ficava bem a senhora nenhuma, procuravam era vestir um fato que lhes ficasse horrivelmente mal e feio".

Inicialmente, esses homens eram homens do campo, com poucas posses para comprarem máscaras e recorriam às roupas velhas das mulheres lá de casa, usando caraças feitas com caixas de sapatos *.

As "matrafonas" persistem no Carnaval de Torres porque se tornaram num dos seus ícones mais fortes e atualizam a sua sátira.
Não se confundindo nunca com um travesti, as "matrafonas" ora satirizam alguns dos toques femininos mais vulgarizados, ora dão uma visão da mulher, nem sempre inocente e nunca isenta, na ótica masculina.
A imagem da mulher socialmente "mal comportada" é um papel recorrentemente retomado por muitas "matrafonas".

A Associação de Ministros & Matrafonas reúne muitos dos atores mais participativos do Carnaval de Torres.


terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Carnaval de Torres Vedras - As Origens de uma Tradição Antiga

|Carlos Guardado da Silva

Já no século XIII, nomeadamente no reinado de D. Afonso III, se festejava o Entrudo em Portugal, do latim introitus, "entrada", referindo-se ao período de três dias que precedia a entrada na Quaresma. Tratava-se de uma festa popular resultante de comportamentos espontâneos onde se lançavam pelas ruas baldes de água, ovos, laranjas, farelos entre outros produtos.



No século XVI, atesta-se também a utilização do termo Carnaval, evocando as festas romanas então recuperadas pelo Cristianismo, que começavam no dia de Reis (Epifania) e terminavam na quarta-feira de cinzas, vésperas da Quaresma. A sua origem parece advir do latim medieval carnelevāre, véspera de quarta-feira de cinzas, dia em que se inicia(va) "a abstenção da carne". Uma alusão ao dia em que, anualmente, o sacerdote colocava as cinzas resultantes da queima das palmas bentas do ano anterior sobre a cabeça dos fiéis... idênticas às cinzas que resultariam da queima do Entrudo, o Carnaval personificado, num rito purificador de retorno à ordem social e religiosa quotidiana. As mesmas cinzas a que seria votado, mais tarde, o rei do Carnaval, aquele que melhor encarna o espírito carnavalesco.

Neste período, de inversão das regras do mundo, a máscara, a mesma máscara usada no teatro grego, era um elemento obrigatório, símbolo da transformação de quem a usava em outra pessoa, de personna, termo latino para máscara. Com o mesmo sentido se estendeu aos restantes disfarces, de que são exemplo as matrafonas, testemunhos da inversão da ordem social e de quebra do interdito, sobretudo religioso.

De tudo isto bebeu o carnaval torriense, hoje como ontem desenvolvido na rua, com os seus cortejos, com as batalhas das flores em vez das laranjadas, por vezes violentas. Um tempo de excessos também na comida, através de alimentos gordos e flatulentos que libertariam gases pestilentos e sonoros, substituídos modernamente pelas bombas de mau cheiro.

A República domesticaria estes costumes espontâneos numa festa de rua organizada, dado o seu caráter profano. Assim se entende a popularidade do primeiro grande Carnaval de rua organizado em Torres Vedras, pela mão dos republicanos, que substituíram a procissão das cinzas pelo enterro do Entrudo, logo em 1912. Emergia uma nova festa cívica, porque invertia a ordem vigente, por extensão a ordem anticlerical. Como muitas outras, o carnaval afirmou-se, na primeira República, como uma festa de substituição, também ela de cariz republicano, democrática, substituindo, em parte, uma festa religiosa, pelo que não tardaria que, a partir de 1923, o carnaval passasse a ser uma cerimónia de rua, com organização continuada.


Publicado originalmente em janeiro de 2012 in Revista Torres Vedras nº06



domingo, 23 de fevereiro de 2014

Todas as perdas

|Gilda Nunes Barata

Todas as perdas
São grandes sinos
Que ressoam
A inércia do coração.

sábado, 22 de fevereiro de 2014

Este dom

|Gilda Nunes Barata

Este dom
de ser ferro
E de queimar a sede
na corrente do musgo.

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Claras as cicatrizes

| Gilda Nunes Barata

Claras as cicatrizes
Débil a liberdade acesa.
Continuaria a queimar o branco
Até vê-lo aceso.

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

O mar corre nos meus ossos

|Gilda Nunes Barata

O mar corre nos meus ossos

Como se corresse na areia

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

A Primavera ficava-te bem

|Gilda Nunes Barata

A Primavera ficava-te bem:
Trazias o sangue embalado

E nenhum espaço para o fôlego

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Adorar o silêncio

|Gilda Nunes Barata

Adorar o silêncio
Até que ele perfure a respiração

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Gilda Nunes Barata - Biografia

Gilda Nunes Barata (www.gildanunesbarata.com). 
Licenciada em Direito (Universidade Católica de Lisboa,1996). Mestre em Literatura (Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, 2002). Doutora em Filosofia (Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, 2008).
Membro e investigadora do Centro de Filosofia da UL (Grupo de Investigação de Fenomenologia).
Associada do Instituto de Filosofia Luso-Brasileira.
Colabora com o Centro de Estudos do Imaginário Literário.
Trabalha no Gabinete de Estudos Olisiponenses da Câmara Municipal de Lisboa.
Poesia: Quando o Rio e a Maré Confluem (1999); Vertigem Velada (2000); A Última Ceia Invadida Pelas Ondas (2006); A Luz Negra no Seu Roxo Amanhecer (2009).
Livro histórico-poético baseado em depoimentos de 30 personalidades portuguesas acerca da Revolução do 25 de Abril: Onde é que Você Estava no 25 de Abril? (2004).
Ensaio: A Presença na Ausência em Teixeira de Pascoaes e Mário Beirão (tese de mestrado, 2004); A Fenomenologia Enquanto Lugar Total da Vida: Diálogo Poético-Amoroso Entre Merleau-Ponty e Alguns Pensadores e Artistas (tese de doutoramento, 2012).
Teatro: La Nuit Brouillant mes Rêves (2002), português/francês.

Álbuns Ilustrados: O que é a Saudade, Querido José Maria? (2001); Coisas de Amarração (2002); Na Terra das Mil Coisas (2003); Duas Irmãs em Odrinhas (2005); Por que é que as Alforrecas são Infelizes? (2007); Zangaram-se as Cores do Arco-Íris! (2008); Rockinho (2010); Um Xaile com Notas a Chorar (2011), português/inglês; Saudade, Meu Amor? (2011), português/inglês; poema “Andorinhas e Gaivotas”(CD Fado Sonhado); Lisboa, Princesa do Tejo e do Mar (Plano Nacional de Leitura); Zubaida e Columbina (2012); A Semeadora de Estrelas (2012); Um Lugar Encantado (2013); Um Rinoceronte e uma Gaivota na Torre de Belém (2013), português/inglês.

sábado, 15 de fevereiro de 2014

Ser feliz

|Teodoro Balaven

, imagino que no inferno você tenha um emprego, esteja em cidades e viva cercado por milhares de pessoas dizendo para você buscar o equilíbrio e ser feliz.

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Beijo

|Teodoro Balaven

, ela, hoje mais do que nunca se lembrou do telefone de caio, ela, está próxima da certeza absoluta de estar sozinha, ela, decidiu que fará com as pessoas o mesmo que faz com os produtos, não estando em acordo ou se o atendimento foi ruim simplesmente deixa de comprar, ela, deixará de ir até as pessoas, ela, estóica, sabe que isto vai custar caro, mas fará poupanças, a casa será térrea e terá barras de apoio por todos os lados, sabe que será assassinada pelo amante de sua acompanhante, enquanto estiver dormindo, sozinha.

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

robert, um bom velhinho

|Teodoro Balaven

, Robert, um pobre velhinho de 92 anos, contabilizou nesta noite de sexta-feira seu sétimo estupro.
Curiosamente, Robert, estuprava suas vítimas - companheiras das casas de repouso - com uma agulha de crochê.

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Vendo ótimo apartamento 23 metros quadrados

|Teodoro Balaven

, que porra é aquela, não sei, tá vindo pra cá, tá, porra não pode, mas o que é aquilo, parece uma seta, que merda é aquela, é uma pessoa, não sei, não é, acaba logo com isto, p!á!, pronto tá no chão, vai lá, caralho cara, era uma menina, o que, uma menina daquelas que ficam nas esquinas, como assim?, porra, tu é idiota, daquelas que fazem propaganda para construtoras, porra. foda-se. quem mandou pegar o caminho errado.

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

reprodutor

|Teodoro Balaven

, acho melhor a gente não se mêtê.
, e ele tá abrindo a calça, tá?
, e ele tá com a mão na boca dela, tá?
, e ele tá puxando a saia dela, tá?
, e ele tá apertando ela no vidro do ônibus, tá?
, e ele tá com o pinto duro, tá?
, e ele tá virando ela de lado, ta?
, e ele tá segurando o pinto, tá?
, e já chegou nosso ponto, já?
, mulher, acho melhor a gente não se mêtê.

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Teodoro Balaven - Biografia


Teodoro Balaven nasceu em São Paulo/Brasil, em 1976, mas passou a maior parte da vida entre caixas de papelão e caminhões de mudanças, vivendo em 50 e tantas cidades por tudo isso aí de mundo. Quando era criança foi só criança. Agora anda por São Paulo outra vez: vendendo troco, consertando disco voador e preparando-se para virar agricultor. Autor do livro nunca publicado de contos Bananas Podres (2012. Com ilustrações da artística plástica Ana Rabelo; vídeo-animação de Dimitri Kozma e trilha sonora de Estrela Leminski e Natalia Mallo).

Participou com seus contos na Revista Sexus #3. Edita a página do facebook Bula de Tabaréu (resenhas de literatura contemporânea); participou da antologia de contos ‘Como enganar o Google’ da Editora Terracota e foi cronista do evento Balada Literária 2013 em São Paulo.
Fez oficinas com o mestre e querido escritor Marcelino Freire; com a artista plástica Ana Rabelo e mantém o site www.asfodelos.com onde mantém seus escritos.
Teodoro Balaven agradeceu e mandou um abraço para você.

domingo, 9 de fevereiro de 2014

Os intrépidos portugueses que gostam de apanhar com água nas trombas

|Alexandra Malheiro

A tempestade Hércules que nos tem assolado em todas as suas quatro (e quantas mais, meu Deus, quantas mais?) investidas, se parece não ter servido para mais nada senão destruir património à beira-mar plantado e nossa paciência – pelo menos para quem como eu tem um limite muito finito para tempo cinzento e chuva persistente agravada com vento forte; teve um, chamemos-lhe mérito – ainda que a contragosto – de nos mostrar quão intrépidos, temerários e ousados são os tugas. Numa época em que achávamos já que “o melhor povo do mundo” era de facto um povo mortiço, sem ânimo, sem genica, acobardado no medo de perder o emprego, de se manifestar de outro modo que não nas redes sociais e na mesa do café, um povo, enfim, sem espinha dorsal, sem estamina, uns amorfos. Pois se nos roubam no ordenado, nos impostos, nos feriados, nos dias de férias, na segurança no emprego, se nos atiram precaridade, nos empurram fronteira afora, nos prometerem mais e melhor austeridade, nos saqueiam persistentemente vendendo a preço da uva mijona tudo o que no país haja que seja digno de desejo, tudo privatizado desde a energia aos correios, dos aeroportos às linhas aéreas, tudo, tudo, tudo, mesmo o que nos cai no colo – como a colecção Miró – e que bem podia ser aproveitado para ganhos futuros como mais-valia cultural e aposta no turismo de cultura nacional e estrangeiro – é desbaratado a troco de uns míseros cobres que parecem ter o destino comezinho de um dito que aprendi com a minha Avó acerca daqueles a quem o dinheiro parece arder nas mãos – “é como manteiga em focinho de cão”, some-se! Tudo isto e o povo continuar a digladiar-se, sim, sobre quem demorou mais tempo a saír do balneário.

Pois bem, não nos deixemos enganar, o Tuga é um herói dos tempos modernos, basta pô-lo borda de água, e sim somos um país de marinheiros, e é vê-los felizes junto à berma, prestes a apanhar com uma onda de dez metros bem no meio da focinheira. O próprio MacNamara, especialista em ondas de 30 metros (devidamente equipado, treinado, com prancha e fato e motas de água em torno, como deve um profissional de ondas gigantes actuar) partilhou incrédulo a impassividade dos Tugas no farol rodeados de onda tsunâmica por todos os lados como se não fosse nada com eles. E não era. Eu própria observei num telejornal a reportagem – não vou chamar jornalística porque o pasmo envolve-me de cada vez que percebo as coisas que são “notícia” (e prometo que não falo sequer das que não são…) – de um moço algarvio, lançado nas ondas com a sua prancha que se viu transportado por mais de um quilómetro que o pôs na praia vizinha àquela onde tinha começado a surfar (em plena tempestade Hércules, pois então, o medo há-de ser coisa que não lhe assiste), confessando este que nem sabia bem o que lhe tinha acontecido. Foi notícia, graças ao Senhor, se tivesse morrido por, incauto, se ter lançado ao mar em dia de tempestade para treinar o surf, seria notícia na mesma, para a estação era igual e para o público também. O vigor só diferiria se dúvida houvesse se a atitude temerária e parva fosse fruto da sua invenção e dos amigos ou se a mesma fosse de sua invenção e dos amigos mas a tivessem baptizado de praxe. Aí sim o festim seria completo com mais de um mês de assombradas teorias da perseguição, mistérios dignos de um Shelock e horas a fio de airplay televisivo. Soubessem os pescadores que se fazem ao mar por necessidade e que por azar ficam nas ondas, o que deviam fazer para fama e gáudio e, estou certa, este povo intrépido que gosta de apanhar com as ondas no focinho teria uma muito maior quantidade de heróis e mártires, dignos quiçá de embelezar o panteão. Já que estamos numa de transladar à dúzia que há-de ser mais barato e a troika aprovará com um sorriso terno.

sábado, 8 de fevereiro de 2014

Mal puro

|Luís Coelho

A neurose do eterno retorno
É como as dores de crescimento
O recuo gera a expansão
Como a evolução da involução
E este é o menor mal!

O Mal puro não é a involução
Ou o recuo temporário
Daqueles que são constantes
A vida é neurose permanente
Desequilíbrio pungente
Entre pólos cabalísticos

O Mal puro não é o Inferno revisitado
Quando se permite o regresso órfico
E o salto quântico iluminado
Nem sequer é o pecado
Como o erro de ver a Luz onde ela é escassa
Ou o eterno no frugal impermanente

As más escolhas são condição do crescer
Os pecados e os males farão recrudescer
Esse destino de sermos Deuses ou Civilização
O Mal puro é mais profundo
Porque é eterno ruminar
No mundo dos demónios encarcerados
O Mal puro é bem mais fundo
Porque é eterna involução
De um eterno retorno
Em que o retorno é mor que evolução
O Mal puro é regressão
É andar para trás e não voltar
É esta a Psicose da mente bárbara
Ou o Inferno da condenação
São estas as trevas verdadeiras
De uma Idade que não é Média
Mas o Anticristo de sombras derradeiras.

O Mal puro é alienação
Porque a Luz se perde para sempre
Sujeito e Objecto já não se vêem
Nem juntos e nem sequer separados
Pois que o mundo dos Demónios
Não é como o Arché das Leis primárias
Ou mesmo o Bom selvagem pacificado
É o terrível de um caos amordaçado
Por isso não é o génio que desconstrói
Porque este selvagem só destrói
Para que o Caos que fica
Seja somente a causa falsamente incausada.



Visite o blogue do autor em www.reeducacaopostural.blogspot.com

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Folha de papel encontrada na Enfermaria B

| Filipe Cachide

(…)
Dirijo-me, portanto, a sonhadores,
A quem o mundo hoje pertence por direito –
Que andem nas nuvens, poetas ou nefelibatas,
Para quem o mundo não é feito de estradas
Que não as linhas traçadas por pombos
Ou pelas livres andorinhas.

Escancarem portas à magia da palavra
Real, nobilíssima, ufana de amor –
E qual será mais verdadeira do que a poética,
Dos vossos corações em sombra já espremida?
Coroai-vos de lirismos e passeai-vos pela
Métrica do prazer de sentir.

Façam de vossos corações as vossas almas,
Que a solução da Existência existiu sempre
Inscrita em vós – e num momento
A epifania vos abale na poesia em que ressurge:
Deixem os comícios, e deixem as políticas
Que vos distraem de andar nas nuvens!

Retesem vossa argúcia, lustrem vossa ironia.
Um povo como vós é necessário que hoje
Subsista nas entrelinhas da realidade
Prosaica. Lancem poemas e cravem-nos
Em estacas nas muralhas da cidade.
E que todos leiam os versos...!




Filipe Cachide nasceu em Aveiro em 1991. Interessou-se desde cedo pela leitura e, por extensão, acabou por ingressar na escrita, que cultiva nos seus tempos livres, tendo mantido um blogue durante dois anos. Concluiu os estudos preparatórios em 2009 e encontra-se de momento a terminar o curso de Medicina na Universidade de Coimbra.

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Três poemas

|Wellington Amâncio

Ulisses e seu Timoneiro

À noite do riso, a penumbra desce
É a vaga que traz a nau
E sabe o caminho até Ítaca.
Rumores, vozes abafadas e o remo
Algum vinho antigo
Ulisses acabara de sorver
O calor interior, ante o frio
Do infinito mar, é integridade
De poeta, de guerreiro, de sonhador.
O Timoneiro sustenta a flâmula
Na outra mão a lâmpada pende
Às lembranças de amigos que jazeram.
Ulisses, o que vale o navegar?
- talvez, apenas o Retorno.
E o que não vale?
- o chão, onde nenhum homem tombou
Essa terra virgem.

*

O rito da eterna procura

Algo em si já é dado
Completo e acabado
Não tem mais razão de ser (feliz)
Como  de um ponto de fuga
É preciso que dele saia
Uma linha de seu Carretel
Para um Ponto Infinito
Onde as vistas não alcançam
Para enfim estar eternamente
Em busca de Fio de Meada

*

Anjos

Anjos nascem frágeis
E sempre aos sete meses
E decerto desnutridos
Mal escapam dos reveses
Anjos são analfabetos
Sentimentais demasiados
Demonstram-nos o que sofrem
No semblante, estampado
Anjos não negam ajuda
Mas isso lhes é sempre negado
Vivem nas margens das margens
A injustiça é seu fado
Socialmente reprimidos
Choram em longos soluços
Presos neste mundo fingido
Morrem em sonhos avulsos


Wellington Amancio, 48 anos, graduado em Docência e Gestão de Processos Educativos UNEB, especializado em Ensino de Filosofia, atualmente cursa mestrado em Ecologia Humana pela UNEB/PPGEcoH. Publicou em 2011 o livro de poemas "A Fisionomia das Pedras" e “Baragundaia”, em 2012.

http://lattes.cnpq.br/1092766680924156






quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Sem notas de rodapé – Sobre o vício

|Maria João

Escrevo-vos em abstinência. Entenda-se: estado de privação de um vício prejudicial a vários níveis. Esta crónica é destinada a viciados e não viciados. Para os primeiros, na expectativa de que se reconheçam e tirem daí as consequências que quiserem. Dirigida aos segundos, na tentativa de que nos compreendam.

Seja qual for a forma que assuma, o vício constitui um espaço – diria um dos raríssimos espaços – de individualidade suprema. Naquele acto está-se consigo próprio apenas. É algo onde mais ninguém entra nem reclama posse. Como um outro eu, a adição possui uma inteligência emocional autónoma. Conhece-nos e sabe exactamente o que precisamos em cada altura. Amplifica as boas sensações. Analgesia os momentos mais solitários. Nela encontramos sempre o que se procuramos. Sem perguntas. Nunca nos obriga a traçar a fronteira entre o certo e o errado. Não nos confronta com o intervalo entre o que somos e o que queremos ser. Alimenta, simplesmente, a necessidade de evasão. É, ao mesmo tempo, um mecanismo de fuga e de suporte da realidade. Anestesia-nos. Como escape que representa, previne o desvio radical. Garante mais uma dezena de voltas submissas, arrastando o peão no tabuleiro da quotidianidade. E perante o cansaço da mesmidade diária, o vício sente-se como um direito. Conquistado, merecido, legítimo.

O que mais me intriga e frustra no vício é o sistema teórico que construímos para o sustentar. Longe de ser um estado transitório de loucura, uma avaria no fusível da sensatez ou um distúrbio mental que nos torna inimputáveis aos olhos da lei, o vício convive com a nossa racionalidade. Temos plena consciência dos seus efeitos adversos. Não somos nem nos sentimos «nós» quando em privação. A dependência é palpável, corrói ainda que possa ser disfarçada. Sabemos as causas e verificamos a degeneração. Odiamos o eu viciado, sentado no canto oposto do ringue. Convencemo-nos a iniciar o combate. Marcamos uma data. Repetimos este procedimento até perder conta das vezes, embrulhados numa guerrilha travada interna e diariamente. Fracassamos. Quebramos promessas com auto-desilusão, mas sem arrependimento. Proferidas por nós, são nossas por descumprir. Existe algo de profundamente satisfatório em cometer um erro. Ponderadas as contribuições positivas que, dia-a-dia, lutamos por alcançar, torna-se tentador e libertador o acto de nos prejudicarmos a nós próprios. Uma dor que se suporta porque somos os seus únicos receptores.

Nestas ocasiões gostaríamos de ser dementes ou alienados. No entanto, todos os regressos à estaca zero ocorrem sob a luz da mais perfeita lucidez. Acarretam, por isso, doses consideráveis de censura e de repúdio pela parcela do cérebro que foge ao nosso controlo. E é neste culminar da evidência de fragilidades próprias que, porque humanos falíveis que todos somos, abraçamos de novo a adição temporariamente ausente.

É incrível o vazio que um vício dominado deixa nas nossas vidas. Talvez mesmo só proporcional, por estranho que pareça, ao quão ocos nos sentimos imediatamente após o seu consumo. É um substituto sem substituição possível. Quando gasto, resta aguardar o reencontro, no qual se deposita a esperança de que ele apague, desligue, interrompa. Seja o que for. Diferente, por certo, para cada um.

Não prometo que amanhã não caia. Conto cada dia como uma vitória, mas não agendo festejos nem prevejo remissões totais. Desconfio de mim própria. Sou polícia de mim mesma.

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Editorial: Nos 19 anos do ATV

|Luís Filipe Cristóvão

O mês de fevereiro marca o 19º aniversário do ATV – Académico de Torres Vedras, casa deste projeto literário que agora leva o nome de Revista Literária Sítio. Os 19 anos da associação marcam uma plena maturidade de um projeto que, mesmo vivendo diferentes vidas ao longo da sua existência, preocupou-se, sempre, em alimentar bases para o seu crescimento.

Assim também por aqui tentamos que isso seja possível. Mesmo perante dificuldades, desesperos ou desilusões. Tornando o mais importante, não aquilo que nos pode ferir neste momento, mas o que crescerá de cada problema na descoberta da sua solução. Mais do que parecer um otimista em excesso, da mesma forma que noutras alturas foi de negativismo que tentaram cobrir as minhas palavras, trata-se de exercer, sobre todo e qualquer momento, um esforço realista.

A realidade é, neste momento, a de um projeto à procura do seu rumo. As ideias de solidariedade, bem-estar, criatividade e esforço social que fazem parte da essência do ATV estão bem expressas no projeto da Sítio. Torná-lo bem mais abrangente é a missão de cada um de nós. Porque acreditem não custa nada, ser realista por um minuto que seja em cada dia e arriscar o impossível.