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sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Xadrez Alcoolizado

|Olinda P. Gil

Ainda hoje não sei. Se gostei ou não daquela prenda que me deste num aniversário. Não sei se gostei porque não percebi a intenção.
Está certo que o meu xadrez era velho. Tinham‑mo dado em criança, para eu aprender. Eram peças de plástico, já gastas pelo tempo e amolgadas pelo uso. Tomara‑lhe um amor fiel. Por isso nunca tinha comprado um novo, tirando o do computador que dava para jogarmos juntos pela net quando estávamos longe.
Ultimamente tens sido o meu único parceiro de xadrez.
Se tiver sido por isso, agradeço a intenção de me dares um xadrez novo. Nesse caso gostei da prenda.
Mas poder‑me‑ias ter oferecido outro xadrez. Um em madeira, de fabrico artesanal indiano, ou um antigo, comprado num antiquário, peça de museu. Há uns muito giros, de que sempre gostei, com as peças em ónix branco e preto. Até me podias ter dado um em louça da Vista Alegre.
Se me querias dar uma coisa de valor.
Agora um xadrez em que as peças são pequenos copos de cristal com as figuras pintadas.
Explicaste‑me o uso: enchiam‑se os copos. Cada peça fora do jogo era um copo bebido por quem a perdia. A ver quem perdia pela embriaguez. Podia ser que um dos dois caísse antes do xeque‑mate.
Até se podia encher os copos com conteúdos diferentes. Vinho branco e tinto. Martini rosso e bianco.
Disseste que eu gostava de Martini.
Não achei graça nenhuma ao teu comentário. Mas tu riste‑te sozinho.
Por acaso estarás a chamar‑me bêbedo?