Ainda hoje não sei.
Se gostei ou não daquela prenda que me deste num aniversário. Não sei se gostei
porque não percebi a intenção.
Está certo que o meu
xadrez era velho. Tinham‑mo dado em criança, para eu aprender. Eram peças de
plástico, já gastas pelo tempo e amolgadas pelo uso. Tomara‑lhe um amor fiel.
Por isso nunca tinha comprado um novo, tirando o do computador que dava para
jogarmos juntos pela net quando estávamos longe.
Ultimamente tens sido
o meu único parceiro de xadrez.
Se tiver sido por
isso, agradeço a intenção de me dares um xadrez novo. Nesse caso gostei da
prenda.
Mas poder‑me‑ias ter
oferecido outro xadrez. Um em madeira, de fabrico artesanal indiano, ou um
antigo, comprado num antiquário, peça de museu. Há uns muito giros, de que
sempre gostei, com as peças em ónix branco e preto. Até me podias ter dado um
em louça da Vista Alegre.
Se me querias dar uma
coisa de valor.
Agora um xadrez em
que as peças são pequenos copos de cristal com as figuras pintadas.
Explicaste‑me o uso:
enchiam‑se os copos. Cada peça fora do jogo era um copo bebido por quem a
perdia. A ver quem perdia pela embriaguez. Podia ser que um dos dois caísse
antes do xeque‑mate.
Até se podia encher
os copos com conteúdos diferentes. Vinho branco e tinto. Martini rosso e
bianco.
Disseste que eu
gostava de Martini.
Não achei graça
nenhuma ao teu comentário. Mas tu riste‑te sozinho.
Por acaso estarás a chamar‑me bêbedo?