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quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Projécteis para o passado

|André Domingues

Keneth diz-me que todas as noites faz amor com uma constante física fundamental. Eu olho para as nuvens, que entretanto invadiram o céu da minha capacidade de abstracção, esboço um sorriso e continuo a fumar. Ele parece captar com a maior nitidez deste mundo a imagem da minha reacção e está muito determinado em querer provar-me a sua verdade. Vasculha qualquer coisa no bolso das calças. Surge um magnífico revólver na sua mão.
Keneth está com um revólver apontado a uma das suas têmporas, pronto a disparar. Antes que a hipótese de um grito rasgue a pré-história das minhas vontades, o gatilho da arma é accionado. A bala liberta-se a uma velocidade inimaginável. De tal forma que nunca chega a sair da arma. Pelo contrário, regressa ao cano. À caixa de munições. À fábrica onde um dia foi inventada. O próprio revólver tende a desaparecer. A nossa amizade. Eu e Keneth. Todas as constantes físicas fundamentais.