Páginas

domingo, 24 de novembro de 2013

É com a imaginação que morro

|Alexandra Antunes

Ao A.de C., o meu abraço do mundo dos vivos para o mundo dos mortos e beatificados

É com a imaginação que morro
Ao relento
E tanto sou um deus reles e vil
Como um fantasma sem ideais.
É com a imaginação que escrevo
A compreensão do cais onde me sento
A paciência do universo
Que me obriga a ficar de pé.
É com a imaginação que roda
Num forte espasmo
A dolorosa luz
Como esta fúria e esta febre rangendo
Demasiadamente dentro de mim.
De súbito a cabeça começa a arder
Os nervos são de perto dissecados
E eu vejo a beleza disto tudo.
Por isso deixo
Que os ruidosos trópicos de ferro e fogo
Prendam a minha existência até
Ao limiar do sufoco.
A febre do meu cérebro sempre vence
— Vitorioso delírio que me verga
Porque me obriga a escrever.