|Editorial
Quatro meses inteiros a fazer revista e olhar para a frente, ver um ano
inteiro a chegar e a pesar, respirar fundo, seguir em frente, mais um passo,
mais um passo, um passo de cada vez. Quatro meses inteiros a fazer revista, a
gerir as frustrações de cada vida, as distâncias, os desempregos, os trabalhos
pesados, os silenciosos empregos, as chamadas de surpresa. Quatro meses
inteiros a fazer vida, todos os dias.
E para mudar de agulha, saber que na literatura encontramos uma janela
para um mundo que se explica melhor do que o nosso. Daí a importância de ler
quem escrever por nós. Quem sente com as letras e constrói de palavras paredes,
casas inteiras. E para mudar de agulha, abrir portas e convidar mais gente,
para que o mundo se faça inteiro de vários olhares, sensações, mãos que
escrevem, mais do que no papel, no corpo.
Quatro meses inteiros e muitos pais, pelo passado e pelo futuro. Porque
abril mal se cumpriu e o maio não vá, de maduro, cair. Aprender a resistir
mesmo que sem ações – porque ação já é esta a de respirar num espaço onde
convidamos quem venha respirar connosco. Sejam palavras, sejam olhares, sejam
sensações. Começar mais um mês, sob o signo do trabalhador, essa espécie em
vias de extinção, essa espécie em revolução constante. E não parar nunca de
lutar.